A CIDADE E SEU CRESCIMENTO

Começam a salpicar os resultados do CENSO 2010, e com eles a constatação quantitativa do que todos já perceberam: a cidade cresceu numericamente. Um salto de 19% no número de habitantes representa um visível processo de inchaço urbano – sentido na pele pelas reclamações de trânsito, mas não só nisso, se começarmos a recordar as recentes chuvas, os transbordos do rio, entupimento da rede subterrânea de drenagem, as recentes obras de alargamento dessa mesma rede, a quantidade recorde de asfalto que foi feita nos últimos 10 anos, os processos de regularização fundiária – que não foram poucos dos loteamentos irregulares, o boom imobiliário e os crescentes lançamentos de bairros quase condominiais que a cidade vem assistindo isso só vem para coroar o que já os números retratam: a cidade cresce num processo claro de caos “ordenado”.

Ainda não saíram todos os resultados, que proporcionariam fazer aquilo que se espera que a parte responsável por gestão urbanística e planejamento da cidade faça: mapear, mas façamos um breve exercício intuitivo para entender os contornos preocupantes que o crescimento urbano desfigura.

Comecemos pensando num histórico de 10 anos, onde foram as áreas que mais cresceram? Se dividimos as cidades em regiões, veremos que grande parte da cidade encontra-se num estado que urbanisticamente se chamam de consolidadas: poucos terrenos disponíveis, edificações construídas há um tempo razoável e infra-estrutura urbana já consolidada. Sobram então poucos espaços disponíveis para o crescimento horizontal que é o mote da lei de uso e ocupação do solo que regia à época do crescimento a cidade. Um pouco mais de perspicácia e percebe-se que esse crescimento é claramente visto na região que vamos chamar de São José. É perceptível o inchaço populacional que tomou conta da região que ganhou novos bairros, e não para de ganhar – haja vista os três novos empreendimentos imobiliários sendo desenvolvidos no local.

Percebe-se claramente ali um pólo que adensa a população.

Agora vamos a analise fria da região. Ali se percebe que o custo do m² de área é inferior ao de outras regiões, o que favoreceu a criação de loteamentos mais baratos. Porém esses loteamentos seguem um processo de desenho extremamente maléfico a continuidade do tecido urbano e a integração com a cidade. São o que chamamos de cul-de-sac: bairros em que há somente um acesso isolado, sendo impossível entrar ou sair de lá sem tomar essa via. O que para muitos pode parecer uma vantagem é na verdade um problema que compromete a qualidade de vida no bairro. São as ruas sem saída e as configurações de bairros condominiais. Se compararmos com as regiões que chamamos de consolidadas, verão que nelas não há esse tipo de enclausuramento urbano, são bairros interconectados, com diversas opções de saída e que permitem um recorrido a pé – fundamental esse recorrido a pé para a eficiência e a qualidade de vida.

Isso numa primeira analise somente da questão urbanísitica. Esse tipo de adensamento regional que a cidade passou também trouxe a tona um certo descaso municipal em suprir as demandas dessas regiões de crescimento isolado: não se supriu de instrumentos de qualidade urbana e qualidade de vida para esses locais: não foram construídas escolas, praças, quadras… Ah, sim foi construído, sim concordo! Porém a configuração espacial gera uma sensação de que tudo está longe – ao contrário do meu bairro onde mesmo as praças, posto de saúde e quadra estarem em outros bairros eu tenho a sensação de proximidade dos serviços públicos, lá se percebe que a configuração gera essa distância. Noves fora os asfaltamentos, quem mora nessas regiões de recente adensamento convive com enxurradas fortes, deslizamentos de terra, alagamentos e falta de acessibilidade. Isso decorrente da ingerência do processo de constituição desses bairros.

Outra coisa a ser observada é a deficiência de serviços: mesmo com o aumento substancial de 1/5 da população da cidade o setor de serviços não abraçou esse crescimento, concentrando no centro todas as facilidades, e deixando as regiões mais distantes carentes de coisas báscias como papelarias! Isso já ajuda a explicar o porque nosso trânsito é esse caos! Com todos os serviços concentrados no centro, insuficiência de vagas de estacionamento, avenidas estreitas, fila única e a ditadura do automóvel em detrimento ao pedestre, não há transito que sobreviva organizado!

Essa é só uma primeira analise decorrente dos resultados do censo! E mesmo assim sem colocar os dados em mapas para se fazer desenhos urbanísticos mais adequados.

O que se percebe é que o poder público tem que enxergar isso com planejamento estratégico, investimento nessas áreas, analisar friamente dos dados disponibilizados, ver a configuração que a cidade tem hoje para priorizar investimentos! Não sair cheio de boas intenções para construir uma avenida sob uma rede férrea que liga nada a lugar nenhum e que funcionaria como uma via expressa a ser ignorada pela população (haja vista a já existência de parte significante dessa avenida em formato de rua – bela vista e a rua atrás da praça da estação, que são sumariamente ignoradas pelos motoristas. Se for para priorizar, que priorizemos o transporte público, acessibilidade nas calçada spara deficientes.critica-se as praças, mas são elas pontos de confluência e aglomeração de pessoas – é lugar de lazer! Esses bairros que estão passando por crescimento são carentes dessas áreas de lazer, de aglomeração de gente, de festivais, de festas! São carentes de transporte público adequado, de infra-estrutura urbana, de redes de drenagem, de contenção de encostas, de escolas bem estruturadas! De rede de serviços!

Olhemos com atenção aos dados, as configuraçãos urbanas da cidade, os números e façamos uma analise fria para uma gestão pública de qualidade que vai gerar bons frutos! A cidade cresceu, a gestão tem caminhar no mesmo sentido: crescer! Espero que esses dados sejam mapeados, planos sejam criados, audiências públicas realizadas para discutirmos a “gestão participativa” da nossa cidade!

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